Explorando ‘Vigilante’: Uma Jornada de Ação, Suspense e Contradições

Nos últimos anos, plataformas de streaming têm explorado o universo do audiovisual asiático, investindo em produções originais e ampliando seu catálogo. A Netflix é pioneira nesse cenário, expandindo e lucrando com as produções. Segundo Ted Sarandos, CEO da Netflix, serão investidos cerca de US$ 2,5 bilhões em séries, filmes e até reality shows nos próximos quatro anos na Coreia do Sul.

Nesse cenário, outras plataformas, como Disney e Amazon Prime, entram para tentar competir com novas produções e atingir um novo público. O fenômeno “Moving”, que se tornou o K-drama mais assistido da Disney, e “Death’s Game”, com um elenco de ouro, foram lançados em 2023. São alguns dos exemplos para abordar essa movimentação. “Vigilante”, lançado no Star+, foi uma das apostas para esse ambiente de entretenimento competitivo que vem chegando ao mercado.

Vigilante conta a história de Kim Ji Yong (Nam Joo Hyuk), um jovem estudante do Departamento de Política da Coreia do Sul que vive uma vida dupla. Durante a semana, é o estudante número um na escola de polícia e, aos fins de semana, se encaminha a uma caçada a criminosos que não receberam a pena condizente, de acordo com seus valores de julgamento. O K-drama é uma produção original da Disney e está disponível no serviço de streaming Star+. O drama é baseado na webcomic “Vigilante”, escrita por CRG, e foi dirigido por Choi Jeong-Yeol.

A trajetória do anti-herói é muito bem conduzida. Uma criança que viu sua mãe ser assassinada em sua frente cresce com um sentimento de revolta em relação ao sistema e rancor contra as instituições responsáveis pelo julgamento do criminoso. Assim, carrega o peso do mundo em suas costas e decide fazer justiça com as próprias mãos. É uma trajetória coesa de um personagem; as decisões que ele toma complementam o perfil do personagem. A sensação de arrependimento não o corrompe porque ele acredita que está fazendo o certo. “Dever” seria a palavra mais correta para definir a sensação. Ser um justiceiro é um dever para Kim Ji Young.

Vigilante possui uma premissa promissora, com cenas de ação que tornam a experiência de acompanhar o K-drama excitante. No entanto, ao começar a abordar críticas ao sistema, a história se esvazia e torna-se superficial. Isso ocorre porque as críticas são rasas e se limitam ao discurso de “lutamos pelo fim da corrupção”, sem explicar como, quando e por que dessa origem.

Enquanto um gênero de ação, “Vigilante” consegue entregar cenas incríveis e extravagantes, apesar de ser exageradamente caricato em alguns momentos. No entanto, quando o roteiro parte para as críticas políticas, constrói diálogos arriscados sem uma análise mais concisa sobre o tema, caindo em discursos perigosos como nos do episódio 4, em que se declaram uma ineficiência dos “direitos humanos” em um debate ao vivo entre a jornalista Choi Mi Ryeo (Kim Soo Jin) e um cientista social convidado. Críticas como essas não devem ser soltas aleatoriamente, sem a profundidade requerida pelo tema.

Vigilante não peca ao entregar personagens com morais deturpadas na forma de enxergar o mundo, porém, a forma com a personagem Choi Mi Ryeo foi introduzida e representada, como uma personagem que sempre busca pela justiça e por um jornalismo social, não condiz com as verdadeiras ações da personagem. É uma apresentação contraditória. 

Segundo o Art. 7º do Código de Ética dos Jornalistas, “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.” Choi Mi Ryeo é o inverso, sua preocupação é com as visualizações e alcance do seu jornal. Em diversos momentos, ela coloca seus anseios, pessoas e convicções acima do seu dever de profissão. 

As atuações são bem intensas e combinam com as personalidades irreverentes entregues aos personagens. O olhar vazio, desafiador e carregado de ódio é muito bem interpretado por Nam Joo Hyuk. Para além dos pontos citados anteriormente, Vigilante se apresenta com uma ótima série de ação e suspense, digna de aplausos de fãs do gênero. No entanto, ao se arriscar por caminhos diferenciados, carregando um senso crítico, a série se prende aos diálogos rasos.

Ficha Técnica:

País: Coreia do Sul | Diretor: Choi Jeong Yeol | Número de Episódios: 8 | Genêro: Drama, Policial, Film Noir | Ano: 2023