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Até que ponto iríamos para estar com a nossa alma gêmea? Será que o amor pode ser um sentimento que ultrapassa as barreiras do corpo físico? O quanto estamos dispostos a arriscar para estar com a pessoa amada? Essas e outras importantes questões são introduzidas na mente do espectador por Bungee Jumping of Their Own, longa lançado em 2001, do diretor Kim Dae-sung. O filme poderia recorrer aos clichês do gênero melodrama, mas acaba por trilhar caminhos mais obscuros ao enfrentar os tabus sociais a respeito da homossexualidade na Coreia do Sul.

O enredo parece simples: In-woo (Lee Byung-hun) e Tae-hee (Lee Eun-ju) acabaram de entrar na faculdade e ambos não acreditam na ideia de amor à primeira vista. No entanto, acabam se apaixonando dessa forma e se envolvendo em uma relação profunda e verdadeira que pareceria ser capaz de durar para sempre. No experienciar da juventude, o casal promete selar esse amor eterno com um salto de bungee jump em um famoso pico da Nova Zelândia. Enquanto isso, nós, como espectadores, também somos levados a acreditar que esse amor – comum e heterossexual – sobreviveria às mazelas do tempo e poderia se tornar duradouro.

Acontece que, sem nenhuma espécie de aviso prévio, somos transportados até o futuro. Dezessete anos mais tarde, encontramo-nos mais uma vez com In-woo, agora mais velho, formado e professor de uma escola de ensino médio. Ele tem uma filha ainda pequena e está casado – com uma mulher que não é Tae-hee.

Crédito: IMDb.

Essa nova realidade nos leva, inevitavelmente, ao seguinte questionamento: o que aconteceu com Tae-hee? Sem tardar, a narrativa do filme nos sugere uma resposta quando um dos estudantes de In-woo, Im Hyun-bin (Yeo Hyun-soo), indaga o professor sobre o seu primeiro amor. Com as memórias ainda vívidas, In-woo percebe que ainda tem sentimentos por Tae-hee, mesmo depois de tantos anos, e passa a investigar o paradeiro de sua amada. Renasce, assim, a sutil esperança de reencontrá-la.

A partir desse ponto, a graça e as nuances do filme de Kim Dae-seung se apresentam sob o desenrolar de um estranho mistério, que, por vezes, poderia até mesmo ser considerado sobrenatural. À medida que a trama se desenvolve, estranhas situações envolvendo o estudante Im Hyun-bin, de dezessete anos, acontecem. Itens outrora pertencentes à Tae-hee reaparecem nas mãos do rapaz. Observar essas inusitadas situações, impotente e sem entender o que está acontecendo, vai levando In-woo ao limite do bem-estar emocional e da confusão mental.

Afinal, quem é o jovem Hyun-bin e por que ele parece estar diretamente conectado ao seu professor? Nesse momento, Hyun-bin também parece estar sendo levado para uma trama que desconhece: seus próprios sentimentos. Assim, o rapaz encerra o relacionamento com sua namorada de outra classe e, cada vez mais, vê-se envolvido com In-woo, mesmo sem entender as razões e tendo que lidar com o desconforto da desconfiança e olhares jocosos advindos dos colegas de classe e do corpo docente.

Créditos: MyDramaList.

Por outro lado, In-woo passa a questionar a própria vida. Ele ainda amava sua esposa? Ou melhor, ainda a desejava? O que estaria havendo, afinal, com a sua própria identidade sexual? Desesperado, In-woo chega até mesmo a buscar ajuda médica. É nesse ínterim que o filme apresenta a sua verdadeira face: aquela que lida e desafia os preconceitos com a comunidade LGBT na Coreia do Sul. Para além do drama e do romance existentes na trama, sua verdadeira mensagem diz respeito a uma contundente crítica social à discriminação que permeia as diversas camadas da sociedade sul-coreana.

Cabe aqui ressaltar que a Coreia do Sul é um dos países que sequer reconhece casamentos ou união estável de pessoas do mesmo gênero. Em 2014, alguns membros do Partido Democrata chegaram a apresentar à Assembleia Nacional um projeto de lei que legalizaria o relacionamento LGBT – até os dias atuais, porém, não foi levado à votação. O máximo da conquista dessa comunidade aconteceu em 2019, quando o governo sul-coreano anunciou que reconheceria cônjuges do mesmo gênero de diplomatas estrangeiros que fossem para a Coreia do Sul, mas que não reconheceria o casamento entre diplomatas homossexuais sul-coreanos, ainda que residissem e trabalhassem no exterior.

Após a situação se tornar caótica e repleta de rechaços, In-woo é finalmente demitido da instituição. Confuso, decide partir para a Nova Zelândia a fim de realizar o sonho que construiu com sua amada Tae-hee. Ele é acompanhado pelo estudante Hyun-bin até a estação de trem, onde o verdadeiro eu do garoto se revela. No reflexo do trem, vemos a imagem de Tae-hee se aproximando de In-woo.

Crédito: gayhf.com

De volta ao passado, o paradeiro de Tae-hee é revelado. Em uma noite, indo ao encontro de In-woo, Tae-hee sofre um terrível acidente e morre no ato. Dezessete anos mais tarde, em um lindo e sensível diálogo entre In-woo e Tae-hee, agora no corpo de Hyun-bin, o mistério é resolvido. “Eu demorei muito para chegar”, diz Hyun-bin. “Você chegou no momento certo”, responde In-woo. Assim, os dois se encaminham para o destino final na Nova Zelândia.

Crédito: IMDb.

Ao término do filme, In-woo e Tae-hee cometem o seu ato dramático de amor final, pulando, sem nenhum equipamento, de Bungee Jump. Agora, quem se comunica são apenas suas almas, que vagam sobre um riacho: “Eu prometo voltar como uma mulher na próxima vida”, diz Tae-hee. “E se eu voltar como uma mulher também?”, indaga In-woo. “A gente tenta de novo”, responde.

Ficha Técnica:

País: Coreia do Sul | Direção: Kim Dae Seung | Roteiristas: Ko Eun Nim | Elenco: Lee Byung Hun, Yeo Hyeon Soo, Lee Eun Ju, Hong Su Hyeon, Jeon Mi Seon, Chang Suk Won | Duração: 100 min | Ano: 2001


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