MidiÁsia

Entrevistada: Virgine Borges Castilho Sacoman

Tema: Ativismo de Fãs de K-Pop/K-Popers

Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e segunda licenciatura em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul). Especialista em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mestra em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e bolsista (taxa) pela Capes/PROEX. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Cultura Pop (Cultpop) do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS e do Centro de Estudos Asiáticos (CEA) da Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo experiência em Estudos Asiáticos, com ênfase em Estudos Coreanos. Áreas de pesquisa e interesse: Hallyu studies, estudos de fãs, ativismo digital e cultura pop asiática. Docente da Educação Estadual do Rio Grande do Sul e Editora de Conteúdo do site BrazilKorea (2018). 

1. Quais são os principais assuntos que você aborda em sua produção científica e os porquês?

De maneira em geral, eu abordo mais sobre a Hallyu e seus produtos culturais, considerando a historicidade do fenômeno e a relação com os fãs. Eu busquei especificar, primeiro, sobre esse assunto academicamente por questão pessoal mesmo, já que faz um tempo que eu tenho afeição pela Onda Coreana e, depois, eu notei que havia pouca produção científica no idioma português sobre esse assunto ou até mesmo que contasse as origens desse fenômeno no Brasil, então percebi que poderia trazer alguma contribuição. Hoje, o cenário é diferente, nós já temos grandes pesquisadores da área e grupos de pesquisa focados, como o MidiÁsia e também, o CEA.   

2. O que é a Onda Coreana e seus aspectos, no seu ponto de vista?

Para mim, a Onda Coreana é um fenômeno sobre a popularidade crescente dos produtos culturais sul-coreanos a qual começou primeiramente entre os países vizinhos a Coreia do Sul e que se expandiu em aspectos globais com a colaboração do desenvolvimento de tecnologias de comunicação, mas também por meio de estratégias do governo sul-coreano e principalmente através de agências, produtores e artistas. 

3. Por que pesquisar a Onda Coreana no Brasil?

Creio que seja necessário o estudo sobre a Onda Coreana no Brasil porque é algo que já faz parte da rotina de muitos(as) brasileiros(as) e que mobiliza cada vez mais as pessoas a conhecerem a cultura coreana, e consequentemente, a consumirem esses produtos culturais. Ainda que seja um fenômeno de escala global, a Hallyu no Brasil tem as suas peculiaridades que se encaixam ao contexto brasileiro o qual notamos em sua recepção. 

4. Na dissertação, você explorou o ativismo de fãs de K-Pop/K-popers. O que seriam essas articulações? Como elas dão-se? Quais as suas consequências? 

Essas articulações as quais me refiro na minha dissertação se referem as táticas que fãs de K-pop realizam em plataformas online para realizar o ativismo em rede. No meu trabalho, utilizei a plataforma Twitter para mostrar as ações de fãs em relação a mobilização a favor do movimento BLM. Eu poderia ter usado outras plataformas, entretanto eu precisava delimitar e mediante aos movimentos exploratórios da pesquisa, constatei que essa plataforma seria a mais adequada para trazer essas táticas a luz sobre o movimento. De maneira resumida, posso dizer que essas táticas acontecem em ações rápidas e costumeiras em que fãs já realizam normalmente no seu dia a dia ou no fan labor. Então, quando movimentos assim de grande repercussão midiática acontecem, esses fãs já sabem quais táticas devem ser utilizadas para trazer visibilidade a causa, e consequentemente, alcançar o topo das métricas ou atrapalhar forças contrárias. Um exemplo notório foi o uso de fancams por fãs de K-pop durante o movimento BLM. A questão é que o grande diferencial neste caso foi o uso dessas fancams como spams, uma forma de atrapalhar o lado contrário ao movimento – a ferramenta por si só sem a colaboração em massa em nada poderia resultar nesse sentido de apoio. Em outras palavras, fãs têm total consciência e conhecimento de suas táticas em rede e as utilizam desde promover os seus ídolos favoritos até para alcançar visibilidade a causas ativistas. 

5. Ainda sobre a dissertação, você teve um enfoque nos fãs brasileiros e o movimento ‘Vidas Pretas Importam’, em inglês ‘Black Lives Matter’ (#BLM). Por que desse enfoque?

No caso da minha dissertação, eu tive que escolher apenas um caso de ativismo de fãs de K-pop devido ao prazo da pesquisa. No início, eu tinha a impressão de que eu poderia abordar vários casos ou mais de um, mas realmente abordar só sobre o movimento Black Lives Matter foi o mais adequado, pois consegui especificar e dar atenção merecida ao movimento. Eu escolhi fãs brasileiros (as) porque notei que o movimento aqui no Brasil foi secundarizado pela questão do antifascismo e isso se deve ao nosso contexto político. Para mim, foi interessante notar esse desvio geral da recepção do movimento como uma percepção na prática mesmo. Além disso, achei que também seria interessante trazer como fãs de K-pop tratam essas questões raciais – o que é algo polêmico – mas existente dentro do fandom, e sobretudo, a percepção desses fãs sobre a indústria cultural sul-coreana de forma em geral. 

6. Quais são seus prospectos de pesquisa, continuar com o ativismo de fãs de K-Pop? Focar em outro aspecto da Onda Coreana? Ou modificar para um objeto ainda dentro dos estudos da cultura pop?

Eu pretendo continuar dentro do aspecto da Onda Coreana, mas ainda não tenho um foque, ou seja, se continuo abordando sobre fãs de K-pop ou ativismo desses fãs, enfim. Por agora, arrisco em dizer que eu continuarei abordando essa relação do fenômeno Hallyu com fãs, pois me parece que a minha vida acadêmica segue nesse direcionamento mesmo não sendo esse meu propósito inicial. Meu projeto de pesquisa para o mestrado era relacionado apenas com a representação da Hallyu e com o tempo, fui percebendo outras questões e achei pertinente ir para esse trajeto sobre estudos de fãs. Assim também foi com o meu TCC, segui a linha sobre fãs, porém com a perspectiva sobre a história e não do comunicacional, fora que também meu trabalho foi sobre otakus – que aparentemente não têm nenhuma relação com fãs de K-pop – no entanto, conhecer esse fandom foi importante na minha compreensão em relação as origens da Onda Coreana no Brasil.  


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