MidiÁsia

A procura pelo aprendizado da língua coreana tem crescido cada vez mais que pessoa consomem produtos advindos da Onda Coreana. Dessa maneira, aumentam as demandas das pessoas capacidades no ensino desse idioma para repassar seus conhecimentos aos interessados. A partir das percepções do estudo do coreano, consegue-se reorientar uma série de preconcepções criadas por desconhecimentos sobre a Coreia do Sul, tal qual as relações desse país com seus vizinhos asiáticos. A exemplo disso está na generalização do termo ‘dorama’ (novelas japonesas) para referir-se a qualquer produção televisiva da região do Leste Asiático. Isso vem de uma propagação errônea de informações, que a partir do estudo da língua coreana, passa-se a entender que os termos possíveis de serem empregados são K-Dramas, com a letra na frente da palavra para diferenciar o país, ou mesmo novelas sul-coreanas.

A entrevistada Oh “Juliana” Soo-jin graduou-se em Administração de Empresas (1995) pela Universidade de Yonsei, localizada em Seoul, Coreia do Sul. Essa instituição é conhecida como uma das maiores sul-coreanas, fazendo parte do círculo de prestígio composto pela Seoul National University (Universidade Nacional de Seoul), Korea University (Universidade da Coreia) e Yonsei University (Universidade de Yonsei), as quais foram a sigla SKY. Conforme aponta o currículo da entrevista, a mesma atua como “tradutora técnica e literária, legendadora, intérprete” nas línguas portuguesa (Brasil) e coreana (Coreia do Sul) desde 1989, profissionalmente. 

1. Para começar, você poderia nos contar como foi o seu processo de começar a ensinar o idioma coreano?

Em 2015, criei um grupo no Facebook chamado “Coreano para Todos” que atualmente tem quase 30 mil membros, recentemente deixei o cargo de administradora do grupo por falta de tempo. O objetivo era compartilhar um pouco do meu conhecimento sobre a cultura e o idioma da Coreia. Gostei dessa experiência de compartilhar meu conhecimento e comecei a dar aula de coreano.

2. Quando veio para o Brasil, a sua família tinha a pretensão de fixar residência ou somente estava de passagem? Se sim para algum dos dois, por favor, explique.

Meu pai dirigia táxi e vivíamos na pobreza em Seoul [서울]. Quando a família de um vizinho mudou para o Paraguai, meus pais resolveram fazer a mesma coisa. Quando chegamos no Paraguai, esse vizinho já estava no Brasil. Depois de 1 mês no Paraguai, meus pais também decidiram tentar a sorte no Brasil.

Entramos ilegalmente no Brasil. Eu cruzei a fronteira com uma mulher desconhecida. Essa mulher me deixou na casa do nosso ex-vizinho coreano. Minha mãe e meu irmão de 3 anos vieram com outro agente. E meu pai tentou entrar sozinho no Brasil, foi preso na fronteira e ficou um tempo preso na delegacia do Paraguai. Demorou de 2 meses para a família se reunir novamente. A primeira palavra que aprendi no Brasil foi “sai”. O filho caçula do meu ex-vizinho me mandava sair da casa dele todos os dias. Eu tinha 6 anos, na época não sabia o que isso significava, mas guardei o som.

3. Como foi o seu processo pessoal de aprendizado do português?

Demorei 2 anos para aprender o português e aconteceram vários desastres por falta de compreensão do idioma. Aprender o português não era uma questão de escolha, eu tinha que aprender o idioma para conviver com as pessoas. Era uma questão de necessidade. Consegui aprender o idioma quando mudamos de cidade e fiz amizade com uma menina da vizinhança. Ela tinha 1 ano a mais e me ensinou usando repetição de palavras. Essa era nossa brincadeira. Enquanto outras crianças brincavam de papai e mamãe, a gente brincava de professora e aluna.

4. Atualmente quais são os trabalhos que você desenvolve a partir da língua coreana?

Desde criança, fui a intérprete de coreano para meus pais. Acompanhava meus pais quando tinham que comprar tecido, fazer negócios, encontrar o professor, alugar uma casa e também era a intérprete quando assistia um filme em casa. Gosto de compartilhar meus conhecimentos, por isso dou aula, [assim como] sou tradutora, intérprete, legendadora e profissional de Machine Learning [Máquina de Aprendizado].

5. Em sua experiência, você ensina coreano somente para brasileiros ou também faz o mesmo processo com coreanos que querem aprender português?

Sim, ensino coreano para brasileiros que precisam se preparar para o TOPIK [Teste de Proficiência em Língua Coreana], para brasileiros que estão morando na Coreia e também para descendente de coreanos que não tiveram a chance de aprender o idioma na família. Também ensino português para coreanos que precisam trabalhar no Brasil ou que pretendem morar no Brasil.

6. Com tantos anos de experiência, conte algumas das dificuldades e peculiaridades dos trabalhos que exerceu.

Há 2 tipos de alunos. O aluno que aprende rápido e o aluno que demora mais para aprender. O aluno que aprende o idioma mais rápido costuma sentir uma necessidade maior em aprender. Por isso pesquisa sobre a Coreia e consome muita coisa relacionada com a Coreia diariamente de forma correta. Consome livros, filmes, notícias, poesias e passa pelo menos 1 hora do dia traduzindo esse material do coreano para o português. É o tipo de aluno que nunca deixa de fazer a lição de casa e considera o professor um parceiro no processo do aprendizado. Esse tipo de aluno sabe que o processo de aprendizado deve ser diário.

O [outro tipo é o] aluno que demora mais para aprender acha que o professor é o único responsável pelo seu aprendizado. Como está pagando o professor, repassa toda a responsabilidade para o professor e não colabora. Nunca faz a lição de casa, sempre esquece ou está ocupado demais para estudar coreano, acha que 1 aula semanal é o suficiente para ficar fluente e não sente a real necessidade de aprender o idioma coreano. Consome livros, filmes e música de forma errada. Acha que basta ouvir música e assistir filme com legenda. Não é suficiente. É importante passar pelo menos 1 hora do dia traduzindo esse material do coreano para o português. Tive um aluno que estudou durante 6 anos e não saiu do nível básico.

Meu pai mora no Brasil há 46 anos e não fala o português. Ele nunca sentiu necessidade porque sempre tinha ajuda de outras pessoas. Então já dá para saber que esse papo de imersão cultural para aprender o idioma não funciona.

7. Com o rápido levante do consumo da Hallyu (Onda Coreana) no Brasil nos últimos anos, como isso impactou o seu trabalho? Você acredita que a cultura pop tem sido uma ferramenta importante para facilitar a intimidade dos brasileiros com a língua coreana?

O rápido levante do consumo da Hallyu [Onda Coreana] no Brasil nos últimos anos não impactou no meu trabalho. As pessoas têm interesse na música, filme, desenho e novela da Coreia, mas quase ninguém tem interesse em aprender o idioma. O motivo é simples: dá trabalho estudar. Ouve a música sem entender a letra, mas acha que está tudo bem. O ritmo é legal, então isso basta. Entende algumas palavras como “oppa [오빠], gamsahapnida [감삽니다], annyeonghaseyo [안년하세요]” e acha que já está bom.

8. Você acredita que o estudo do idioma é mais uma ponte importante para melhorar o relacionamento entre Brasil e Coreia do Sul? Como a língua pode ser um caminho importante para trocas culturais entre países tão distantes?

Talvez, [porque] o estudo do idioma pode ser mais uma ponte importante para melhorar o relacionamento entre Brasil e Coreia do Sul, mas, mais importante do que isso é entender a cultura. Talvez seja por causa da distância, mas Brasil e Coreia do Sul têm culturas muito diferentes. Sem entender e aceitar essa diferença, acho difícil estreitar o relacionamento. Vale lembrar que a imagem do país que vemos através da mídia está com filtro. É preciso ver a imagem nua e crua sem esse filtro, [com disposição para] aceitar essa diferença.

9. Por fim, você poderia direcionar algumas dicas para os leitores do MidiÁsia que querem aprender mais sobre a língua e a cultura coreana?

Coloque o idioma coreano no seu dia-a-dia, estude 30 minutos de manhã e 30 minutos antes de dormir para convencer seu cérebro que o idioma coreano é importante para você, mude a linguagem do seu celular para o coreano, leia textos em coreano e traduza todos os dias, nem que sejam algumas linhas. Também assista filmes, repita a fala dos personagens, grave no seu celular e ouça todos os dias, mesmo que sejam alguns minutos. Passarei alguns links que podem ser úteis para aprender o coreano.

  1. Há quase 2 mil palavras de origem estrangeira, palavras que vieram do inglês, português, francês, espanhol, japonês. Pode parecer estranho por causa da pronúncia ‘coreanizada’, mas se olhar com atenção perceberá que são palavras fáceis de memorizar. Palavras de origem estrangeira. Wikipédia
  2. Treinar horas
  3. Revisor de frases coreanas
  4. Notícias coreanas numa linguagem mais fácil
  5. Para treinar a digitação
  6. Site do jornal Chosun para crianças

Gostaria de finalizar esse questionário dizendo gamsahapnida [감삽니다].


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